Qual a classificação das religiões afro?
Existem muitas teorias a respeito da classificação das religiões
de matriz africana. Alguns estudiosos às classificam como sendo
animistas, pois entendem que os Orixás são as forças ou elementos
que animam a natureza. Alguns esotéricos até chamam os Orixás de
Elementais, pois entendem que Eles são como estes seres protetores
da natureza. Outros pesquisadores entendem que os Orixás são
deuses, pois possuem templos dedicados à Eles, poderes capazes de
realizar feitos incríveis e que podemos interagir diretamente com
Eles. Há ainda uma terceira teoria que afirma o monoteísmo dessas
religiões com base na análise da figura de Olódùmarè, que é
completamente deixada de lado pelas teorias anteriores.
Olódùmarè (ou Ọlọ́run, Ọba-Ọ̀run, etc.) é entendido pelos iorubás como sendo o seu
Deus. Detentor dos poderes que possibilitam e regulam toda a
existência, tanto no Ọ̀run (mundo
imaterial, transcendente) como no Àiyé (mundo
material, imanente). É de Olódùmarè que vem o Àṣẹ,
a força imaterial divina, poder de criação e transformação de
todas as coisas.
Teólogos, desde Santo Agostinho de Hipona, têm afirmado que Deus é
o ser supremo, princípio gerador do mundo nas religiões. O que
sustenta o monoteísmo é a crença na existência de um único Deus
que é a origem de todas as coisas existentes, sendo descrito com
atributos de perfeição: infinitude, imutabilidade, eternidade,
bondade, conhecimento e poder. Além destes, existem três atributos
específicos que são amplamente divulgados: onisciência,
onipotência e onipresença.
Em Olódùmarè encontramos
todos esses elementos, pois Ele é o Criador, pois tudo aquilo
que existe, inclusive os Orixás, todas as formas de espíritos,
todos os seres viventes, e o próprio trabalho da criação da Terra,
têm sua origem nEle; é rei, pois os iorubás o veem como um rei com
majestade única e incomparável; é Juíz, pois todos os atos dos
homens e até dos Orixás não escapam ao seu julgamento; é
onipotente, pois para Ele nada é impossível; é imortal, pois a
morte é criação sua e não pode submeter-lhe; é único, por isso
não existe formas de culto, imagens ou pinturas, pois não pode ser
comparado; é onisciente, possui a plena consciência; é
transcendente, pois está acima do mundo; é entendido como sagrado
tão ritual como eticamente.
Os Orixás, pelo contrário, não são deuses, pois não possuem
essas qualidades. Os Orixás foram criados por Olódùmarè e
ganharam dEle seus poderes, assim cada Orixá é entendido como uma
manifestação de Olódùmarè, mas não Ele mesmo.
Cada Orixá tem demandas específicas e receberam de Olódùmarè
poderes para realizá-las. São intercessores dos homens junto a Deus
e expressam a vontade de Deus junto aos homens. Em Teologia comparada
com o cristianismo, os Orixás seriam criações semelhantes aos
anjos. Possuem amplos poderes, mas não são oniscientes, pois
dependem de Ọ̀rúnmìlà para
tomar decisões; não são onipotentes, pois dependem uns dos outros
para executar suas tarefas com plenitude; não são onipresentes,
pois sua presença tem que ser evocada. Por isso tudo os Orixás não
podem ser confundidos com deuses.
Se somente Olódùmarè é
Deus, então a classificação das religiões de matriz africana só
pode ser o monoteísmo.
Referências
ADÉKỌ̀YÀ, Olúmúyiwá Anthony.
Yorùbá:
tradição oral e história. Terceira Imagem: São Paulo, 1999.
BENISTE, José. Ọ̀run-Àiyé:
o encontro de dois mundos: o sistema de relacionamento nagô-yorubá
entre o céu e a terra. 6ª ed. Bertrand Brasil: Rio de Janeiro,
2008. 336p.
BOTAS, Paulo Cezar Loureiro. Carne
do sagrado, Edun Ara:
devaneios sobre a espiritualidade dos orixás. Koinonia Presença
Ecumênica e Serviço/Vozes: Rio de Janeiro/Petrópolis, 1996.
DEUS. Wickipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Deus>. Acesso em: 24 maio 2012.
DEUS. Enciclopédia Microsoft Encarta 2001. Microsoft Corporation, 2001. 1 CD-ROM.
ÌDÒWÚ, E. Bólájí. Olódùmarè: God in yorùbá belief. Longmans: Londres, 1968.
KI-ZERBO, Joseph. História
da África negra. 3ª ed.
Europa-América: Portugal, 1999.
SANTOS, Juana Elbein dos. Os nagô e
a morte: pàdé, aṣèṣè e o culto égun na Bahia. Petrópolis: Vozes,
1986.
VERGER, Pierre Fatumbi. Orixás:
deuses iorubás na África e Novo Mundo. Salvador: Corrupio, 1997.
Comentários
O conceito iorubá sobre Olódùmarè é completamente diferente deste que tú expõe, baseado em Idowu (um pastor evangélico).
Peço por favor que examine o material no link abaixo, que deixei temporariamente aberto para ti.
https://skydrive.live.com/redir?resid=71DEA5FE230A32D4!6087&authkey=!ABVpRLokgpIEji0
O link será deletado após tua confirmação do download.
Àse o !
Entenda que a teologia são reflexões filosóficas sobre as teogonias e cosmogonias. Embora outras ciências respondam certos aspectos da religião e do sagrado, elas não conseguem contemplar com totalidade o que essas manifestações são. Então o estudo sociológico, filosófico, antropológico, psicológico ou histórico das religiões nunca serão completos sem o aspecto teológico. Murad e Libâneo dizem que as ciências humanas, quando estudam as religiões, tentam entender como os homens veem Deus. Já a teologia seriam estudos que tentam entender como Deus vê os homens.
Mas gostei muito do que li.
Axé