NOTA OFICIAL DAS INSTITUIÇÕES REPRESENTATIVAS DO POVO DE TERREIRO E DO POVO NEGRO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SOBRE O PL 21/2015
As Tradições
Culturais e Religiosas de Matriz Africana são, historicamente, o maior alvo da
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA e do RACISMO que é a ideologia estruturante da cultura
ocidental, sobretudo a brasileira. Esta sociedade que aí se apresenta é
herdeira do pensamento xenófobo (MOORE), eurocêntrico (DUSSEL), colonialista
(QUIJANO), epistemicida (SANTOS) e cristianocêntrico (SILVEIRA) que beneficia
quem for homem, branco, heterossexual e cristão em detrimento de outros
gêneros, etnias, povos e visões de mundo.
Entendemos que a Afroteofobia
(JESUS) que se refere à demonização
e perseguição às Tradições Culturais e Religiosas de Matriz Africana motivada
por racismo e pela intolerância religiosa, tem recrudescido nos últimos 30 anos
e que neste século, por conta da ascensão de representantes de grupos fundamentalistas
ao poder público, sobretudo nos parlamentos, tem repercutido sob a forma de
criação de leis, muitas vezes disfarçadas, que visam cercear a liberdade de
culto dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana, se tornando um
caso preocupante.
No primeiro dia de mandato na Assembleia Legislativa a deputada
evangélica Regina Becker Fortunati protocola o Projeto de Lei 21/2015 que
intenciona derrubar a Lei Portilho (12.131/04) que assegura aos povos e
comunidades tradicionais de matriz africana o direito à alimentação tradicional
cujo processo se dá por meio de um rito de sacralização. A justificativa da deputada
é de que “a citada prática de liturgias já não se pacifica com a consciência da
sociedade em permanente evolução”, ou seja, a deputada afirma abertamente que
sua intenção é extinguir nossas práticas tradicionais, o que resultaria na
extinção das Tradições Culturais e Religiosas de Matriz Africana como o Batuque,
o Candomblé, a Quimbanda e a Umbanda Cruzada.
Fica evidente que a deputada não quer proteger os animais. Acreditamos
que se fosse a intenção da parlamentar legislar a favor dos animais não se
deteria exclusivamente a cercear a liberdade de culto e de práticas
tradicionais dos povos e comunidades de matriz africana. Pensamos que ela
deveria estar na porta dos frigoríficos, dos rodeios, dos abatedouros, das
churrascarias protestando. Mas não está. Certamente o racismo está implícito
nesta ação. Entendemos, pois, que o referido PL é um embuste. É
inconstitucional, pois fere diversos marcos legais, incluindo os artigos 5º e
19 da Constituição Federal; seu argumento é racista e seu propósito é a
intolerância religiosa.
ASSINAM ESTA NOTA
Organizações
Governamentais
CPTERS – Conselho do Povo de Terreiro
do Estado do Rio Grande do Sul
CODENE – Conselho de Participação e
Desenvolvimento da Comunidade Negra do Rio Grande do Sul
Organizações
da Sociedade Civil
GUPA – Grupo Unidos pelo Axé
FORMA/RS –
Fórum de Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e Segurança Alimentar
Organizações
Associativas
AFROBRAS – Federação das Religiões
Afro-Brasileiras
AFROES – Associação Afro-Umbandista de
Esteio e do RS
AFRORITO – Federação Africana
Mensageiros de Oxalá
CEDRAB – Congregação em Defesa das
Religiões Afro-Brasileiras
CEUCAB/RS – Conselho Estadual da
Umbanda e dos Cultos Afro-brasileiros do Rio Grande do Sul
CONFURBRAS – Conselho Superior Das
Federações da Umbanda e Religiões Afro-Brasileiras do Estado do RS
FAUERS – Federação Afro Umbandista e
Espiritualista do Rio Grande do Sul
FORÇA AFRO –
Associação de Apoio as Casas de Religião de Matriz Africana
Organizações do Movimento Negro
UNEGRO – União de Negros pela Igualdade
MNU - Movimento Negro Unificado
MNU - Movimento Negro Unificado
Gabinetes
Gabinete do Vereador Edson Portilho (PT - Sapucaia)
Gabinete do Vereador Paulinho de Odé (PT - Canoas)
Referências
DUSSEL, Enrique. Europa, modernidade e
eurocentrismo. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade do saber:
eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-americanas. Buenos Aires:
CLACSO, 2005. p. 24-32.
MOORE, Carlos. Racismo e sociedade: novas bases
epistemológicas para entender o racismo. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007.
320 p.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um ocidente
não-ocidentalista?: a filosofia à venda, a douta ignorância e a aposta de
Pascal. In: SANTOS, B. S.; MENESES, Maria Paula (org.). Epistemologias do
sul. Coimbra: Almedina, 2009. p. 445-486.
SILVEIRA, Hendrix. “Não somos filhos sem pais”:
história e teologia do Batuque do Rio Grande do Sul. São Leopoldo: Faculdades
EST, 2014. 134 f. Dissertação (Mestrado em Teologia – área de concentração
Teologia e História) – Programa de Pós-Graduação em Teologia, Faculdades EST,
São Leopoldo, 2014.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder,
eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org.). A colonialidade
do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-americanas.
Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 107-130.
Foto: Jornal Grande Axé.
Foto: Jornal Grande Axé.
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