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Mostrando postagens de 2017

Caridade x Assistencialismo x EconomiaComunitária

Li um pequeno texto num blog que tentava discutir a diferença entre caridade e assistencialismo. Contudo o argumento do texto é muito senso comum. Caridade e Assistencialismo são exatamente a mesma coisa. A diferença está em quem o promove. A caridade é sempre promovida por indivíduos, enquanto que o assistencialismo é promovido por instituições e órgãos públicos ou privados, inclusive instituições religiosas. A palavra "caridade" vem do latim "cáritas" que significa "favor" ou "ajuda". Tanto a caridade quanto o assistencialismo não contribuem para a promoção de igualdade social, pelo contrário, mantém as desigualdades. De fato as desigualdades são até necessárias. É necessário ter pobres para que se faça a caridade e se promova o assistencialismo. Estas ações não alteram o status quo. Geralmente as pessoas e entidades que promovem a caridade e o assistencialismo doam apenas o excedente de seus lucros justamente para pacificar as massas

Ọdún Mẹ́dógún Òrìṣà Òṣàálá

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Em meu discurso na abertura da festa pública que celebrou os 15 anos de assentamento do Òrìṣà ao qual fui consagrado, consequentemente também meus 15 anos de sacerdócio e 9 anos à frente da Comunidade Tradicional de Matriz Africana Ilé Àṣẹ Òrìṣà Wúre , enfatizei a importância do senso de coletividade e do espírito comunitário que são o cerne das tradições de matriz africana. De forma geral - e por conta da sobrevivência desses espaços no país - os terreiros têm se oferecido como oportunizadores sociais ao usar seus saberes tradicionais na movimentação das forças em favor daqueles que procuram saúde física, material e emocional. Cada vez mais escassos são aqueles que procuram os terreiros para sanar sua espiritualidade e muito disso se deve as pessoas não quererem ter compromissos, ou quando acontece buscam apenas benesses próprias. O espírito das tradições de matriz africana é UBUNTU e ubuntu é "o que eu posso fazer pela coletividade do terreiro" e não "o que o

Batuque e Carnaval

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Às vezes me aborreço com alguns batuqueiros... Está tendo um polêmica porque sacerdotes e sacerdotisas do Batuque realizaram um ritual simbólico de lavagem do Porto Seco antes dos desfiles de carnaval que, por ordem do prefeito Marchezan do PSDB, foram proibidos de ser realizados na data tradicional talvez esperando uma desmobilização dos carnavalescos, que não houve. Acontece que horas antes do início dos desfiles os bombeiros interditaram o sambódromo (porque é isso o que efetivamente é, ainda que tenha um nome mais abrangente) proibindo os desfiles alegando falta de segurança. Horas antes do desfile! É mais do que óbvio que se trata de uma sabotagem da prefeitura à festa dos pobres e pretos. Quem não vê isso é cego ou age de má fé. Ora, pois não é que há batuqueiros dizendo que isso é punição dos Orixás porque foi feito o rito simbólico? Sinceramente, são mentes colonializadas que não sabem nada de cultura africana e regurgitam achismos cristianocentrados como se fossem dou

Sobre brancos e turbantes*

Dia desses vi minha neta Sophia, de 5 anos, pegar a boneca de outra, a Lívia, de 2 anos. Logicamente a Lívia protestou, mas a atitude do pai delas foi de garantir o brinquedo com Sophia e usou de vários argumentos para tanto - desde "é apenas uma boneca" até que a outra deve aprender a compartilhar, etc. - que então passou a debochar da irmã. Um outro fato também ocorreu por esses dias: uma jovem branca usava um turbante de estilo africano e foi interpelada por uma outra jovem, esta negra, identificada apenas como ativista, que teria dito que aquela não deveria usar turbantes afro porque é branca e isto seria uma apropriação cultural indevida. A jovem branca logo publicou em sua rede social de forma que foi totalmente apoiada por muitos brancos e até alguns negros. O caso da menina foi marcado pela frase "vai ter branca de turbante sim". Uma apropriação descabida da expressão que tem sido usada por mulheres, negros, homossexuais e afro-religiosos na luta po

Ancestralidade

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Poesia de Birago Diop Ouça no vento o soluço do arbusto: é o sopro dos antepassados... Nossos mortos não partiram. Estão na densa sombra. Estão na árvore que agita, na madeira que geme, estão na água que flui, na água que dorme, estão na cabana, na multidão; os mortos não morreram... Nossos mortos não partiram: estão no ventre da mulher, no vagido do bebê e no tronco que queima. Os mortos não estão sob a terra: estão no fogo que se apaga, nas plantas que choram, na rocha que geme, estão na floresta, estão na casa, nossos mortos não morreram.