Globo versus Record... há dois anos atrás...

HEGEMONIA NA TV... E EU COM ISSO?

Àgo ye ègbón!

Estava eu sentado em minha sala fazendo o que não costumo fazer: ver televisão. O programa era o Domingo Espetacular da Rede Record. Fiquei surpreso ao me deparar com a chamada de uma matéria jornalística criticando a postura de um jornal paulista no tocante a um artigo publicado sobre a Igreja Universal do Reino de Deus. A reclamação: INTOLERÂNCIA RELIGIOSA.
Fiquei curioso e aguardei ansioso para ver a matéria. Nela, o Jornalista Paulo Henrique Amorim fala em tom bombástico a briga que mais de cinqüenta fiéis da Iurd propuseram na justiça contra o jornal Folha de São Paulo e a Jornalista Elvira Lobato, por seu artigo intitulado “Universal chega aos 30 anos com império empresarial”.
Segundo o próprio jornal, os fiéis são pastores e membros da Iurd que entraram com ações indenizatórias contra o jornal e contra a jornalista por acreditarem que a “reportagem ‘insinuou’ que os membros da igreja são inidôneos e que o dízimo pago por eles é produto de crime.”
Tudo isto começou em 15 de dezembro do ano passado quando a Folha publicou o artigo de Lobato que traz dados concretos das empresas ligadas diretamente a Iurd ou a seus bispos e pastores. Ela conta que em 30 anos de existência a Igreja adquiriu 23 emissoras de TV (a TV Guaíba é uma delas) e 40 de rádio. Diz que existem 19 empresas ligadas a 32 pastores da Iurd, entre elas dois jornais de circulação diária como o Correio do Povo. Ainda fala de duas gráficas, uma agência de turismo, uma imobiliária, uma empresa de seguro saúde, uma empresa de táxi aéreo, além de serem acionistas de quatro outras empresas. Nesta matéria Lobato informa que uma das empresas está registrada em Jérsey, um paraíso fiscal do Canal da Mancha. Ela levanta a hipótese de que os dízimos pagos pelos fiéis possam ser “esquentados” em paraísos fiscais. Esta frase foi a motivadora das ações judiciais.
A reportagem do Domingo Espetacular falou ainda de outros membros da Iurd que pretenderiam processar o jornal O Globo por este ter se referido a Igreja como uma seita, entendendo que o conceito que essa palavra carrega no senso comum é pejorativo.
Pesquisando nos sites do jornal A Folha de São Paulo e O Globo encontrei algumas dezenas de notícias envolvendo a Iurd sempre de forma escandalosa.
O que concluo é que sem duvida há uma “briga de cachorros grandes” acontecendo na nossa mídia. De um lado a Rede Globo, conhecida aliada da Igreja Católica, da ditadura militar e dos partidos de direita; de outro a Igreja Universal usando de seus veículos para se defender e atacar a Globo. A idéia da Igreja me parece bem clara: a busca por maior ibope e assim maiores probabilidades de arrecadação, ou melhor, arrebatamento de fiéis para sua doutrina. Já a Globo parece se incomodar com a perda de audiência para a Record. A saída é atacar a “fonte” de tudo.
No meio disso estão alguns milhões de brasileiros que tomam partido deste ou daquele, induzidos a participar do jogo sem se dar conta que são o prêmio para o ganhador. Mas em quem devemos optar? A Globo é a porta-voz da elite brasileira, aquele pequeno grupo de multimilionários financiadores de campanhas políticas que favorecem a si mesmos e que ditam ordens para nós, o grande grupo, aqueles que trabalham para que os multimilionários continuem sendo multimilionários; ou a Record, janela da Igreja Universal para atrair capitais em potencial e assim se tornarem uma nova elite, uma elite teocrática que explora a imagem do deus cristão para angariar fiéis que sustentem monetariamente a própria Igreja.
É... Creio que seja melhor eu voltar a fazer o que melhor sei fazer: ler muito, e sobretudo, não assistir televisão.


Púpò àse gbogbo!

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Sugestão de leitura
Cadernos do Cárcere de Antonio Gramsci, ed. Civilização Brasileira.
Neste livro Gramsci disserta sobre a hegemonia intencionada por segmento da população e o papel da educação e dos intelectuais na sustentabilidade deste propósito.
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HEGEMONIA NA TV... E EU COM ISSO? Artigo publicado no Jornal Bom Axé. Edição 33. Bellgrado. Fevereiro/2008. Pág. 14

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